Boys (Jongens/ Boys), Mischa Kamp, 2014.
Correndo em Seu Próprio Compasso
por Fábio Dantas
Flappers
No
primeiro frame de Boys (Jongens), de
Mischa Kamp, Sieger (Gijs Blom) corre. Corre por ser atleta junevil em um time
de atletismo se preparando para uma importante competição. Corre do clima tenso
em casa, com constantes atritos entre o pai e o irmão mais velho, agravados
pela morte da mãe em um acidente de moto, veículo que o irmão insiste em usar.
Corre contra a inquietação interna de viver em uma pequena holandesa. E corre
de/para si mesmo, por estar descobrindo seus desejos e sua sexualidade.
Sieger
- vivido com frescor e sutileza por Blom - e seu melhor amigo Stef (Stijn Taverne)
acabaram de seu escolhidos pelo treinador do time para formar o quarteto de
revezamento com Marc (Ko Zandvliet) e Tom (Myron Wouts). A curiosidade, atração
e interesse entre Sieger e Marc é imediata.
Sieger (Gijs Blom) corre, corre, corre... |
Sieger e Marc (Ko Zandvliet) contemplam o imprevisível |
Boys é,
sobretudo, um coming of age movie, um
filme de rito de passagem, onde a orientação sexual dos protagonistas é
irrelevante. Mesmo os conflitos que poderiam surgir por conta da relação entre
dois jovens homens, não chegam a ser esboçados, pois as questões ficam
restritas aos protagonistas, ao seu
próprio entendimento, aceitação e posicionamento sobre sua orientação sexual. A
exceção é uma cena emblemática quase ao final do filme, envolvendo Sieger e seu
amigo Stef em um almoço, onde este apenas com o olhar transmite mais que mil
palavras. É provavelmente a mais bela e tocante cena do filme.
O olhar atento de Stef (Stijn Taverne), melhor amigo de Sieger |
Sieger e Marc entregues ao despertar do primeiro amor |
O
diretor Kamp constrói uma obra simples e bem intencionada que, mesmo sem aprofundar
e desenvolver seus personagens em um roteiro mais consistente, ao menos
alinhava com sinceridade um tema universal e atemporal. O filme não é um marco
entre seus pares; não é um mergulho nas relações entre jovens gays como Parting Glances de Bill Sherwood, ou um
tratado sobre amor juvenil e repressão como Clamor
do Sexo (Spelendor in the Grass) de Elia Kazan, ou um retrato intenso sobre
a descoberta arrebatadora do primeiro amor e suas consequências como O Segredo de Broleback Mountain (Brokeback
Mountain) de Ang Lee ou Azul É a Cor
Mais Quente (La Vie d'Adèle - Chapitres 1 et 2/ Blue Is the Warmest Color),
de Abdellatif Kechiche. Ainda assim, faz esboço digno e
sensível do tema.
Ao
final de Boys, Sieger continua
correndo. Continua em movimento. Porém, agora em ritmo, velocidade e compasso
próprio. E devidamente mais seguro de suas passadas.
Ficha Técnica no IMDb: http://www.imdb.com/title/tt3318220/?ref_=nv_sr_1
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