A Comunidade (Kollektivet/ The Commune), Thomas Vinterberg, 2016.
O coletivo e o individual como paradoxos da condição
humana
por Fábio Dantas
Flappers
Um
casal. A necessidade de fugir da rotina e do caminho convencional. A ânsia por
algo novo. Uma grande casa. Uma ideia. Uma experiência. Uma pequena comunidade. Pessoas afins, vivendo
coletivamente, tomando decisões em grupo, em prol do grupo. À espreita, a
natureza humana. A inquietação. O desejo. O indefectível individualismo e
imperfeição dos seres humanos. Promessas quebradas. Confiança perdida. Alianças
partidas, que não fazem mais sentido. Estes são os elementos centrais de A Comunidade (Kollektivet/ The Commune),
novo filme de Thomas Vinterberg, adaptado de sua peça teatral com o mesmo nome.
A Comunidade reunida |
O
dinamarquês Thomas Vinterberg é o real talento revelado pelo Dogma 95, o
movimento cinematográfico do final do século XX que elegeu o purismo e o
minimalismo como elementos centrais de sua estética e narrativa. Sem precisar se
apoiar em polêmicas e apelações, Vinterberg
construiu uma carreira coerente e significativa, ainda que com altos e
baixos. Surgiu para o mundo com o aclamado e impressionante Festa de Família (Festen/ The Celebration),
de 1998, ganhando indicação ao Globo de
Ouro de Filme Estrangeiro e tornando-se o novo menino prodígio do cinema na
virada do século; com o interessante e pouco convencional Dogma do Amor (It’s All About Love), 2003, misto de sci-fi, thriller e romance, fez sua
primeira incursão hollywoodiana, dirigindo Joaquin Phoenix, Claire Danes e Sean
Penn; no ano seguinte, ainda em uma co-produção em Hollywood, realizou o
extraordinário e subestimado Querida
Wendy (Dear Wendy), 2004, pérola pouco vista com performance brilhante do
jovem Jamie Bell; finalmente em 2013 é indicado ao Globo de Ouro e ao Oscar de
Filme Estrangeiro por A Caça (Jagten/ The
Hunt). Todas estas obras tem um
forte viés antropológico, tratando de pessoas unidas por fortes laços – sejam
familiares, de amizade, de vida em comunidade – que precisam de adequar, se
amparar, se defender ou se afastar de seus pares.
Trine Dyrholm, excelente como Anna |
A
Comunidade não tem a força de Festa
de Família ou Querida Wendy,
estudos contundentes, com tons trágicos, sobre seus microcosmos. Nem é o
pequeno universo mais interessante já criado por Vinterberg. O filme não
desenvolve plenamente suas ideias e soa glacial em muitos momentos, assim como
a ilusão de uma sociedade plenamente igualitária, uma utopia considerando que
cada ser humano é único, com vontades, habilidades e interesses diferentes.
Pode haver homogeneidade no todo, desde que se reconheça que cada um é
diferente. Ainda assim, o filme consegue
despertar interesse e simpatia por apresentar uma atmosfera muito pessoal da
década de setenta. Ponto para a fotografia e o design de produção, ambos
notáveis e quase personagens vivos. Ponto também para a coesão do elenco, no
qual brilha Trine Dyrholm, como Anna. O talento da atriz, sua força em cena e a
assinatura de Vinterberg, um cineasta que sempre tem algo a dizer, são os
pontos altos do filme, e fazem deste uma obra que, ainda que não
brilhante, merece ser vista.
Ficha Técnica no IMDb: http://www.imdb.com/title/tt3082854/?ref_=nm_flmg_dr_2
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