Belo Passeio de Gravidade,
com Triste Desvio de Rota ao Fim da Viagem
por Fábio Dantas
Ano passado, ano de Argo, de
Ben Affleck, a Academia cometeu tantas erros e gafes, excluiu tanta gente boa –
como o próprio Affleck na categoria de Direção, causando uma comoção/indignação
poucas vezes vistas na História – e incluindo outros bem duvidosos – como o
engodo Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild) – que todos os
analistas apostavam em um conservadorismo crasso este ano, uma espécie de seleção
segura e conservadora, fugindo ao máximo de riscos. Isso nunca é bom, e como
esperado, o resultado final foi decepcionante.
Ellen tem poder: o selfie da História |
Em um ano com belas obras de
autores, como Ela (Her), o conto de fadas futurista/análise do mundo moderno
onde predomina a solidão, de Spike Jonze e Nebraska, o inventário afetivo permeado
de nostalgia de Alexander Payne, a disputa de fato se estabeleceu entre
Gravidade (Gravity), de Alfonso Cuarón e 12 Anos de Escravidão (12 Years a
Slave), de Steve McQueen. Gravidade, obra-prima de Cuarón, filme que propõe o
embata entre homem vs máquina, que consegue aliar simultaneamente técnica
excepcional com uma narrativa que investiga o ser humano, formando um todo
irresistível, foi grande vencedor da
noite, ganhando sete estatuetas. Porém, não levou o prêmio de melhor filme, que
foi para 12 Anos de Escravidão. De certo modo lembrou 1972, quando O Poderoso Chefão
(The Godfather) e Cabaret dividiram os prêmios principais, com três e oito estatuetas,
respectivamente. A comparação não se sustente apenas por um único – e definitivo
– motivo: 12 Anos de Escravidão não é um grande filme.
12 Anos de Escravidão é um
filme frio, estéril, burocrático e sem força, o extremo oposto do que seu tema
dramático e pungente exige. Os
defensores do filme pregam que é o filme mais importante do ano, é um filme
necessário, já era tempo de premiar o tema. Contudo, nenhum diz que é um grande
filme, que é um trabalho ímpar, uma grande obra cinematográfica. Simplesmente
porque não é. Ao aderir às cotas raciais, ao ceder à campanha “It´s time” a
Academia retrocede e dá mais um passo em falso e premia um filme meramente
mediano por questões alheia à qualidade intrínseca da obra.
Todos os prêmios para Gravidade são inquestionáveis, sobretudo o de Alfonso Cuarón, o Maestro que
rege a sinfonia de silêncios e imersão profunda que o filme é. Bravo! bravo!
bravo!
Alfonso Cuarón com seus dois Oscars, de Direção e Montagem por Gravidade |
Dentre os intérpretes, equivalências distintas entre os vencedores. Cate Blanchett, gigante surgida no final dos 90’s com Elizabeth, é uma das raras unanimidades reais dentre as atrizes da atualidade. Com a grande vantagem de escolher sempre os filmes certos e nunca entrar em projetos duvidosos, como vários colegas fazem com certa frequência. Sua vitória em Blue Jasmine, do Mestre Woody Allen – que neste ano atingiu a inacreditável marca de dezesseis indicações como roteirista, com três prêmios – era uma das mais certas nos últimos anos. É uma performance extraordinária, que modula com precisão as múltiplas nuances e oscilações de sua Jasmine – mezzo Blanche DuBois, um personagem de complexidade ímpar, atingindo um resultado assombroso e inesquecível. Blanchett já havia ganhou seu primeiro Oscar como atriz coadjuvante interpretando a lendária Katharine Hepburn em O Aviador (The Aviator), de Martin Scorsese. Justiça para uma atriz que é quase um milagre e das poucas que de fato pode atingir o topo do patamar da imortalidade plena que só os gênios absolutos podem almejar. Blanchett é uma atriz transcendental.
Cate Blanchett: Atriz Transcendental com performance antológica em Blue Jasmine |
Matthew McConaughey venceu como
Ron Woodroof, eletricista mulherengo, machista e ignorante que descober ser soropositivo em Clube de
Compras Dallas (Dallas Buyers Club), filme bem-intencionado e de resultados razoáveis.
É uma boa performance, embora calcada na fórmula desgastada da transformação
física. Definitivamente, uma vitória para as performances intensas – na expansão
e introspecção, respectivamente – de Leonardo DiCaprio em O Lobo de Wall Street
(The Wolf o Wall Street) e Bruce Dern em Nebraska deixariam tudo mais nobre e
justo. Jared Leto, colega de filme de McConaughey, venceu como ator coadjuvante
e uma análise atenta deixa evidente como a construção de personagem dos dois
atores está a anos-luz de distância. Leto entra em um processo de imersão em sua
Rayon que vai além de transformação física, gestual ou vocal. Ele imprime alma
e personalidade valiosas a u personagem que poderá facilmente cair no
caricatural. Feito notável para um ator até então de resultados – e oportunidades
– modestos. Completando a lista, Lupita Nyong’o venceu como atriz coadjuvante
por 12 Anos de Escravidão. Pode-se dizer que foi uma das vitórias mais fáceis
em muito, muito tempo, pois Lupita, com exceção da cena do sabão, não faz
praticamente nada durante o filme, sequer tem boas cenas ou momentos de
destaque. A última cena de sua personagem parece uma alegoria: ao ver Solomon
(Chiwetel Ejiofor) partir rumo à liberdade, ela sai de foco em cena enquanto
cai no chão. A personagem é basicamente isso, um borrão. E embora a atriz esteja
se tornando ícone fashion, acabou se aproveitando pela categoria estar totalmente
emaranhada, com candidatas potencialmente não premiáveis – caso das duas
performances mais fortes da categoria, de Julia Roberts e Jennifer Lawrence.
Matthew McConaughey: 30 kg a menos e um Oscar por Clube de Compras Dallas |
Jared Leto: brilhante como o transsexual Rayon em Clube de Compras Dallas |
Lupita Nyong'o e seu Oscar por 12 Anos de Escravidão |
Spike Jonze venceu seu primeiro Oscar de Roteiro Original por Ela. Merecidíssimo e mais que esperado, enquanto John Ridley venceu por 12 Anos de Escravidão, batendo concorrentes muito mais fortes como Richard Linklater, Julie Delpy, Ethan Hawke pelo belíssimo Antes da Meia-Noite (Before Midnight). O italiano A Grande Beleza (La Grande Bellezza/ The Great Beauty), de Paolo Sorrentino vencendo como Filme Estrangeiro e Frozen- Uma Aventura Congelante (Frozen), de Chris Buck e Jennifer Lee, dando mais um prêmio de Longa de Animação para a Disney, confirmaram seu favoritismo. Este último venceu também o prêmio de melhor canção original, Let It Go, de Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez, interpretada pela diva da Broadway Idina Menzel.
O diretor Spike Jonze e seu Oscar de Roteiro Original por Ela |
Idina Menzel entoa a belíssima Let It Go, de Frozen |
Concordo com quase tudo, exceto com relação a 12 anos de escravidão, não achei injusta a vitória, apesar de estar torcendo por gravidade, 12 anos de escravidão é um filme forte, e como gravidade já levou melhor diretor, obviamente o filme de Steve Mcqueen iria levar o de melhor filme, a academia tem uma lógica, se entender essa lógica da pra prever quem ganhará
ResponderExcluirBy: Servolo
Ah Rafa, esse "12 Years" anêmico e insípido não dá.
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