Faíscas e Combustões de uma Relação Fatal
por Fábio Dantas
“Não há nada tão perfeito como o fogo
Que esquenta o meu corpo e me atrai
Não há nada como a chama flamejando
Aquece e distrai
Escuta o furioso som das brasas
Me acalma quando a mente vai além
Seu rosto iluminado pela flama
Combinam tão bem
Sente o incêndio acelerar
As faíscas vão sumir
Pras estrelas vão subir
Soltas no ar”
Dois jovens rapazes cantam os belos versos da
canção acima (Nada Como o Fogo, belíssima versão de Marya Bravo para a original
Nothing Like a Fire de Stephen Dolginoff ), lado a lado, enquanto observam
fascinados o fogo, seus olhos brilhando tanto quanto as faíscas indomáveis que
bailam pelo ar dentro da noite escura. Poderia ser o cenário perfeito para um
casal de namorados, contemplando a flama. Mas não é. Este exato momento é o
propulsor, a fagulha que vai detonar o destino dos dois rapazes – e de várias
outras pessoas: é o prenúncio de um plano de assassinato.
Richard Loeb e Nathan Leopold: Anatomia de um Assassinato |
Em 1924, Nathan Leopold e Richard Loeb, dois
estudantes riquíssimos e inteligentíssimos de Chicago, sequestraram e
assassinaram – na verdade o sequestro foi mera desculpa, pois o objetivo era
cometer o assassinato – Bobby Frank, um menino de 14 anos, vizinho de Loeb. Desfiguraram
seu rosto com ácido, o deixaram nu e jogaram se corpo próximo de uma rodovia. O
acontecido ficou conhecido como o crime do século, e inspirou várias obras
literárias, teatrais e cinematográficas, sendo a mais célebre a peça Rope, de Patrick
Hamilton, que foi adaptada por Alfred Hitchcock em sua obra-prima Festim
Diabólico (Rope), 1948.
Esse é o material que inspirou também o
musical Pacto – Relações Podem Ser Fatais (Thrill Me – The Leopold and Loeb
Story), obra premiada de Stephen Dolginoff exibida no circuito Off-Broadway,
que nesta versão brasileira tem direção de Ivan Sugahara.
Dolginoff se mantém bem próximo dos fatos
reais e estruturou sua versão como um musical, um dueto para atores capazes de cantar
a vida de Leopold e Loeb, sua complexidade, interesses e desequilíbrio.
Pacto Sinistro selado com sedução, domínio e sangue |
A encenação carioca é um grande êxito,
justamente por primar por elegância e simplicidade. O cenário de Carolina
Sugahara e Ivan Sugaraha é limpo e modesto, capitando o intimismo necessário,
valorizado pela luz minimalista de Paulo César Medeiros. As versões musicais de
Marya Bravo para as canções originais de Dolginoff são excepcionais, belíssimas
e extremamente inteligentes, um trabalho realmente admirável. A direção de Ivan
Sugahara cria uma atmosfera de refinamento e bom gosto, onde nada sobra e tudo
serve perfeitamente à proposta original: um mapeamento da relação intensa e
doentia entre os dois protagonistas e do crescente de submissão, manipulação e interdependência
que levaram ao lamentável e chocante crime.
Gabriel Salabert, além de ser o idealizador
da montagem carioca, interpreta Nathan Leopold, o jovem brilhante mas deslocado
socialmente, que se deixa fascinar e dominar por inteiro por Richard Loeb. Salabert
imprime muito bem o fascínio e paixão que Leopold sente por Loeb e entra fundo no
jogo de submissão, domínio e devoção irrestrita ao qual seu personagem se
submete. Alterna muito bem os tons entre o Leopold jovem, inseguro e
apaixonado, e o Leopold já adulto e condenado pelo crime, tentando obter mais
uma vez a condicional, sempre negada.
Gabriel Salabert: segurança como Nathan Leopold |
André Loddi, assim como seu Richard Loeb, é
absolutamente fascinante. Ator de crescente sucesso no teatro musical
brasileiro, vindo de triunfos como O Despertar da Primavera e Um Violinista no
Telhado, dos geniais Charles Möeller e Claudio Botelho, Loddi sedimenta mais uma
vez seu nome como um integrante do primeiro time. Sua composição é irrepreensível.
Seu Loeb é instigante, sedutor, dominador, manipulador, pérfido, covarde e
egoísta, se impondo sobre Leopold em cada cena, exercendo seu domínio com força
e brilho. Loddi equilibra a certeza de superioridade e egoísmo extremo de Loeb
com momentos de explosão de euforia, em que revela toda a infantilidade do personagem,
modulando as contradições de Loeb, inclusive com belo trabalho de entonação,
ressaltando o lado mimado do personagem. Nas canções, reina com sua bela voz, a
cada dia mais bem colocada. Seu personagem é um excelente veículo para qualquer
ator de talento, e Loddi se desincumbe dele com seu talento inegável,
fascinando não apenas Leopold, mas a todos os espectadores, com uma performance
inteligente e arrebatadora.
André Loddi: performance arrebatadora, cheia de magnetismo e brilho |
Pacto – Relações Podem Ser Fatais, é um belo
– e raro – exemplo de como montar um musical de menor orçamento no Brasil, com
inteligência, bom gosto e clareza indiscutíveis. Em tempos de exageros e
tentativa de banalização do gênero, não é pouco.
PACTO – RELAÇÕES PODEM SER FATAIS
(THRILL
ME – THE LEOPOLD AND LOEB STORY)
TEXTO, MÚSICAS E LETRAS ORIGINAIS
Stephen
Dolginoff
DIREÇÃO
Ivan Sugahara
DIREÇÃO
Ivan Sugahara
ELENCO
Gabriel
Salabert
André
Loddi
ASSISTENTE
DE DIREÇÃO
Cristina
Lago
PIANISTAS
Priscilla
Azevedo e Antônio Ziviani
VERSÃO MUSICAL BRASILEIRA
Marya Bravo
DIREÇÃO MUSICAL E PREPARAÇÃO VOCAL
VERSÃO MUSICAL BRASILEIRA
Marya Bravo
DIREÇÃO MUSICAL E PREPARAÇÃO VOCAL
Ricardo
Góes
TRADUÇÃO
Gabriel
Salabert
REVISÃO
DA TRADUÇÃO
Daniele
Ávila
ILUMINAÇÃO
Paulo
César Medeiros
FIGURINO
Tarsila
Takahashi
CENÁRIO
Carolina
Sugahara e Ivan Sugaraha
VOZ EM
OFF
Isaac
Bernat, José Karini e Sandro Arieta
GRAVAÇÃO
DAS VOZES EM OFF
André
Poyart
DIREÇÃO
DE PALCO
Zoatha
David
CONTRARREGRAS
Carlos
Balla e Celso Egypto
CAMAREIRA
Débora
Lima
OPERAÇÃO
DE LUZ
Morgana
Grindel
PROJETO
GRÁFICO
Raquel
Avarenga
FOTOGRAFIA
Dalton
Valério
ASSESSORIA
DE IMPRENSA
Lead
Comunicação
DIREÇÃO
DE PRODUÇÃO
Tárik
Puggina
PRODUÇÃO
EXECUTIVA
Aline
Mohamad
GERENTE
DE PROJETO
Carla
Torrez Azevedo
ADMINISTRAÇÃO
FINANCEIRA
Amanda
Cezarina
ASSISTENTE
DE PRODUÇÃO
Marai
João Rebelo
ADMINISTRAÇÃO
DA TEMPORADA
Jorge
Florêncio
REALIZAÇÃO
Gabriel
Salabert e Nevaxca Produções
IDEALIZAÇÃO
Gabriel
Salabert
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